terça-feira, 13 de dezembro de 2011

3 modalidades da Natureza Material



Todos os seres dentro deste universo estão sujeitos a influência das modalidades ou qualidades da natureza material, conhecidas como “gunas”. Literalmente a palavra guna significa “corda”. Há três gunas: bondade (sattva), paixão (rajas) e ignorância (tamas) – que prende a jiva à natureza material como três cordas resistentes. Por isso, o mundo material de maya (ilusão) é às vezes chamado tri-guna-mayi.
Assim como através das cores primárias surgem todas as demais cores, da mesma forma, tudo no mundo material surge da interação dos modos da natureza. Os gunas são os elementos primordiais que, combinados em diferentes proporções, constituem todos os objetos do mundo.

Modalidade da bondade (Sattva-guna):

“Ó pessoa virtuosa, o modo da bondade, sendo mais puro do que os outros, ilumina, livrando a pessoa de todas as reações pecaminosas. Aqueles que estão situados neste modo condicionam-se a uma sensação de felicidade e conhecimento.” (Bhagavad-gita 14.6)

Os exemplos de pessoas influenciadas pelo modo da bondade são o filósofo, o médico, o cientista e o poeta. Ao cultivar conhecimento acerca do mundo material, eles tornam sua vida agradável; atado pela corda da bondade mundana a essa sensação prazerosa, eles não buscam a elevação espiritual. Enquanto estiverem identificados com um estado de avançada felicidade material e trabalharem com o simples propósito de melhorar as condições materiais, ninguém conseguirá obter a liberação (embora possa continuar conseguindo corpos no modo da bondade).
Por maior que seja sua opulência material, em algum momento da vida defronta-se com as quatro inevitáveis espécies de misérias, a saber: nascimento, velhice, doença e morte.
Esta modalidade da bondade é supervisada pelo Senhor Visnu, Que sustenta os universos materiais.

Modalidade da paixão (raja-guna):

“O modo da paixão nasce de desejos e anseios ilimitados, ó filho de Kunti, e por causa disso a entidade viva encarnada está presa às ações fruitivas materiais.” (Bhagavad-gita 14.7)

A modalidade da paixão é caracterizado pela atração sexual e busca incessante do desfrute. A alma condicionada anseia por sexo, e ao concretizar seus desejos, cria um forte nó no apego à vida material. Assim se desenvolve o anseio de obter desfrute material sem limite, cobiça e apego excessivo aos frutos da ação, desejos incontroláveis, etc.
Pouco a pouco, seus desejos grosseiros transformam-se em aspirações mais sutis como conseguir honra na sociedade, desfrute familiar, dinheiro e assim por diante. Para adquirir e manter essas coisas, a pessoa tem que trabalhar arduamente, embora nunca fique satisfeita com a  posição adquirida. Segundo a análise védica, as conquistas das grandes civilizações materialistas decorrem de raja-guna. A modalidade da paixão está sob o controle do Senhor Brahma, o criador do universo material.


Modalidade da ignorância (tama-guna):

“Ó filho de Bharata, fique sabendo que no modo da escuridão, nascido da ignorância, todas as entidades vivas encarnadas ficam iludidas. Os resultados deste modo são a loucura, a indolência e o sono, que atam a alma condicionada.” (Bhagavad-gita 14.8)

O modo da ignorância deixa a jiva condicionada à preguiça, ao sono excessivo e, em geral, ao desânimo e à dependência de tóxicos. É considerado o modo da escuridão porque cobre o conhecimento e conduz à loucura.
A modalidade da ignorância é justamente o oposto a modalidade da bondade. Na modalidade da bondade, o cultivo de conhecimento pode progredir até a compreensão da realidade superior, em que é possível como elas são, discriminar entre o real e o falso, o bom e o mal; mas na modalidade da ignorância a tendência é a se iludir cada vez mais, progredindo na degradação e a própria destruição. O Senhor Siva supervisa o modo material da ignorância, e assim se encarrega da aniquilação do universo.
Embora a entidade vivente (jiva) seja transcendental à natureza material, ao estar coberta pela ilusão, começa a atuar sob o feitiço destas três modalidades. A jiva obtém um corpo de acordo com as gunas em que ela agiu no passado, e cada corpo, por sua vez, induz a agir de acordo com o seu guna predominante. Assim como um títere, a jiva parece dançar, mas, na verdade, as três cordas, tri-guna-mayi, movimentam-na.
A qualquer dado instante, as ações da jiva são influenciadas, não por apenas um deles, e sim, por uma combinação dos modos. Em uma determinada ocasião, talvez a paixão predomine sobre a ignorância; noutra, a bondade sobre a paixão; ou, em outra, a ignorância sobre a paixão; e assim por diante.
Às vezes uma modalidade se sobressai, vencendo as outras duas, sempre existe uma competição pela supremacia entre elas, por isso para avançar na vida espiritual é preciso transcender estas modalidades materiais e assim ficar livre de suas ataduras. A predominância de determinada modalidade se manifesta no comportamento de cada ser, em suas atividades. Nas escrituras tudo é explicado em termos destas qualidades materiais – incluindo as categorias de fé, a determinação, os tipos de alimento ou a espécie de caridade realizada.

Uma diferença importante a destacar, entre a Alma Suprema, Bhagava Sri Krishna, e a alma infinitesimal, a jiva, é que Ele nunca se deixa influenciar pelas gunas. Em todos os momentos, Ele é o Senhor delas, ao passo que a jiva cai sob sua influência.
Embora existam estas três modalidades muito firmemente estabelecidas, si se é determinada, a pessoa pode elevar-se ao modo da bondade, e logo transcendendo ela, pode situar-se na bondade pura, conhecida como o estado vasudeva, um estado no que se pode entender a ciência de Deus.
Seguindo os preceitos védicos, a jiva pode, aos poucos, transcender os três modos materiais e alcançar sua pura consciência transcendental. Daí, no Bhagavad-gita, Krishna exorta Arjuna a “elevar-se acima destes modos”, voltando-se para o Supremo. O transcendentalista é aquele que se eleva acima das modalidades.

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